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Será que há uma bolha prestes a estourar nos Estados Unidos?

É importante, antes de mais nada, entendermos o que exatamente significa o conceito de bolha. Segundo Jeremy Grantham, um grande investidor de valor norte-americano, existem alguns sinais que indicam a formação de uma bolha: A aceleração de preços na economia e a excessiva atenção em ativos com uma valorização muito grande, sem necessariamente possuir uma lógica intrínseca, são dois pontos iniciais.

Como consequência desses fatores, o preço de outros ativos podem, também, apresentar os mesmos indícios de bolha e se inicia uma cascata com enorme poder destrutivo. Mas, então, por que essa dinâmica acontece?


Aumento da demanda: O crescimento da demanda por algum produto ou ativo qualquer acarreta em um aumento de seu preço. Esse aumento pode ser natural ou artificial (assumimos que a oferta se mantêm constante). Um exemplo banal, na qual um vendedor de capas de chuva aumenta o preço na porta do estádio em um dia chuvoso é um caso de aumento natural. Por outro lado, o aumento de preços no mercado imobiliário estadunidense a partir de 2005 fundamentados em empréstimos extremamente baratos e sem confiança da contraparte, revela um aumento artificial que pode caracterizar uma bolha. O aumento da demanda pode ser impulsionado por juros baixos, e tendo em vista a situação atual dos Estados Unidos, é nesse ponto que vamos focar.




























Desde o fim da crise de 2008, o Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos tem mantido juros baixos, sem ultrapassar o nível de 6% a.a., e basicamente a 0% a.a. a partir de 2010. A política de juros baixos costuma ser comum em um cenário de baixa inflação no qual se deseja estimular a economia, expandindo o consumo, na tentativa de saída de uma recessão.



Precisamos apresentar, agora, o conceito de Quantitative Easing: QE é uma política monetária não convencional na qual um banco central compra títulos públicos (emitidos pelo governo) que já estão no mercado, isto é, de bancos. O objetivo desta política é abaixar a taxa de juros e aumentar a oferta de moeda, injetando dinheiro nas instituições financeiras em um esforço de incentivar empréstimo e aumentar liquidez. É utilizado quando os juros de curto prazo estão próximos de zero, como tem ocorrido nos Estados Unidos ao longo da última década. Vale ressaltar que esse é o primeiro ciclo econômico nos Estados Unidos com utilização em grande escala de QE.




E agora, qual o problema em questão?




















A economia dos EUA tem apresentado crescimentos consideráveis nos últimos anos, evidenciando em certa parte a eficácia da política de QE. Porém, após essa longa estabilidade, com receio de "superaquecimento" da economia (aumento da inflação e da oferta de moeda, juntamente com um crescimento insustentável), o Fed vem aumentando a taxa de juros (Fed Funds Rate) gradualmente. A expectativa é de mais dois aumentos de 0,25% neste ano de 2018 (Já houve dois aumentos de 0,25%). O problema em questão é que a reação ao aumento de juros tem indicado certa fragilidade na economia norte americana. Observemos:






Índice S&P 500 no ano de 2018





Índice VIX (medidor de volatilidade)





Lembrando o conceito de bolha, e visto que a mudança de política monetária do Fed abalou o mercado, podemos acreditar num aumento artificial de demanda? A população estava acostumada com juros próximos de 0%, isto é, o planejamento econômico dos indivíduos levava em conta a situação de momento, como bem disse Chuck Prince, ex-CEO do Citigroup: “When the music stops, in terms of liquidity, things will be complicated. But as long as the music is playing, you’ve got to get up and dance. We’re still dancing.”


A volatilidade recente observada nas bolsas de ações dos EUA já deixa muitos investidores cautelosos, e a expectativa para o futuro é de que o Fed continue com aumentos sucessivos da taxa de juros (Federal Funds Rate).


Não é necessário muito para perceber que o assunto é extremamente complexo, e qualquer posição muito assertiva tende a ser errônea. Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, expressa tranquilidade quanto aos alertas da economia: “Today, with the economy strong and risks to the outlook balanced, the case for continued gradual increases in the federal-funds rate remains strong and broadly supported among participants on the Fed’s rate-setting committee.”


Histórico do S&P 500: detalhe para as quedas em 2000 e 2008 (bolha .com e bolha imobiliária) e os níveis atuais



Se por um lado, o discurso de bolha possa parecer alarmista, a serenidade expressada por alguns economistas também deve ser vista com cautela. Afinal, não é simples prever uma bolha, como disse Eugene F. Fama, economista norte-americano: “For bubbles, I want a systematic way of identifying them. It’s a simple proposition. You have to be able to predict that there is some end to it. All the tests people have done trying to do that don’t work. Statistically, people have not come up with ways of identifying bubbles.”


Estaremos aqui acompanhando...


Felipe Nunes é graduando em Economia por Boston College e participa do clube de investimentos Heights Capital






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