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Avaliação por Múltiplos – Não é tão simples quanto parece

No mercado, entre os principais métodos de avaliação de empresas estão os múltiplos comparativos. Tal procedimento envolve a avaliação relativa entre empresas, em que ativos são precificados através de comparativos uniformizados de mercado. Um múltiplo nada mais é que uma relação entre o valor de mercado de uma ação e seus indicadores financeiros, como dividendos ou lucros. É daí que vem sua aparente – e irreal- simplicidade.


Nessa metodologia de avaliação é necessário que sejam comparados múltiplos de mesmo padrão. Para tal, existem algumas regras a serem seguidas:


1. Dimensão do Múltiplo:


No cálculo do múltiplo é necessário que o numerador e o denominador sejam compatíveis em termos de firma e equity. Por exemplo, no caso do FV/EBITDA (valor da firma sobre EBITDA), as duas variáveis estão em termos de firma, dado que ambas levam em consideração a participação dos credores.


2. Múltiplos passados X Múltiplos atuais:


É preciso tomar cuidado com as comparações intertemporais, dado que os parâmetros determinantes podem se transformar ao longo do tempo. Se a relação entre múltiplos de diferentes períodos não for ajustada por variáveis como taxas de desconto ou relação retorno e custo de capital, por exemplo, esse não é um método correto de avaliação. É preciso ter em mente que múltiplo baixo não é sinônimo de ação barata!


3. Ciclo de lucros:


Na avaliação por múltiplos é sempre importante uma análise referente ao ciclo da empresa e da própria economia. As empresas passam por sazonalidades ou sofrem choques referentes à macroeconomia, por isso é sempre importante ter em mente as possíveis distorções nos seus múltiplos.


É muito comum ver os múltiplos sendo utilizados como ferramentas de comparação entre empresas do mesmo setor. Por exemplo, se um indicador de uma companhia está alto se comparado com a média deste múltiplo para o setor de atuação da mesma, pode ser que a empresa esteja sobreavaliada pelo mercado. Entretanto, é preciso tomar cuidado com análises simplistas. A partir das três regras mencionadas, fica mais do que clara toda a complexidade que envolve uma análise por múltiplos. Por exemplo: pode ser que uma ação com um Preço/Receita Líquida de 25x esteja, em termos relativos, mais barata que uma outra que tenha a mesma razão com valor de 5x, justamente por conta de uma série de outros fatores como o risco, taxas de crescimento e retornos.


Preço/Lucro (P/L): Exemplificando a complexidade de um múltiplo importante para o acionista


Intuitivamente, quanto menor o P/L menos é pago pelo acionista para a geração de 1 R$ de lucro pela empresa. Ainda assim é preciso tomar cuidado, pois podem surgir uma série de variáveis que distorcem a análise.


Exemplo: O lucro líquido está na última linha da DRE, por isso, investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D), registrados como despesa, acabam por reduzir o lucro líquido final da companhia. Aí surge a pergunta: até que ponto a empresa A, que possui um P/L menor é atrativa, considerando que não teve um investimento tão alto quanto a B, que investiu e pode ter retornos mais altos no futuro como consequência disso?


Além disso, é preciso colocar na discussão o que defende Alexandre Póvoa em seu livro “Valuation – Como Precificar Ações”. O autor diz que valor de um múltiplo, por si só, não diz muita coisa se não for comparado com o seu P/L justo. Para isso, é necessário recorrer à teoria do múltiplo justo.


Cálculo do P/L justo: P/L=(payout x (1+gperpet))/(rperpet-gperpet)

*payout = dividendos/lucro

**para o cálculo foi considerado que FCFE = dividendos

*** g = growth, r= taxa de desconto


A ideia por trás dessa teoria é a de que não deve haver diferença discrepante de resultados entre o valor justo de uma empresa pelo método do fluxo de caixa descontado e por múltiplos. Por isso, ambas as metodologias devem ter resultados semelhantes, dado que partem do pressuposto de que cada firma tem um valor justo a ser negociado.


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