Derivativos, por definição (no meio do mercado financeiro) são “contratos ou títulos conversíveis cujo valor depende integral ou parcialmente do valor de outro instrumento financeiro”. O que exatamente significa isso?
Um contrato que depende de outro instrumento financeiro é como uma aposta no valor futuro desse mesmo instrumento. Por exemplo, é possível comprar uma opção (um dos principais tipos de instrumentos derivativos) de venda do índice S&P 500 por um determinado preço para dezembro do próximo ano. O preço da opção (do contrato) é estabelecido no momento de compra da mesma, portanto é necessário um acordo entre as partes envolvidas para determiná-lo. Se alguém tem uma opção de venda, deve haver alguém que esteja disposto a dar essa opção (em troca de algo, claro). E como funciona isso?
Entre diversas variáveis no cálculo do preço de uma opção está o valor no qual o contrato será (ou não) exercido, chamado de strike price. Um contrato com strike price próximo do valor presente do ativo tem chances maiores de ser exercido, e por isso opções com strike prices próximos do valor presente costumam ser mais caras. Para o cálculo completo do preço do contrato, um dos métodos mais utilizados é o modelo Black-Scholes (o modelo incluí diversas variáveis e é extremamente complexo para o propósito desse texto – para os interessados, uma explicação mais detalhada).
As opções são utilizadas por diversas razões, porém a mais comum é a proteção que elas oferecem ao comprador da opção. O contrato funciona da seguinte maneira: um dos lados compra a opção e paga um valor para ter esse direito. Ao se aproximar da data de vencimento, o comprador (ou seja, quem possuí a opção) deve tomar uma decisão: exercer a opção (de venda, por exemplo), ou não. Caso o valor real do instrumento seja superior ao valor da opção de compra (ou abaixo da opção de venda), é benéfico para o comprador da opção exercê-la. Caso contrário, ele deve simplesmente deixar que a opção “caia fora do dinheiro”, e terá apenas o custo que foi pago pelo contrato de opção. Dessa maneira, o investidor pode criar mecanismos de proteção em sua carteira, como exemplificado no texto Estratégia Long&Short. Para o vendedor do contrato, é benéfico acumular as taxas pagas pelos diversos contratos vendidos, que na maioria dos casos acabam sem valor nenhum (opção não é exercida). *
É interessante citar mais um fator sobre contratos de opções. Existem dois tipos principais, as opções europeias e as americanas. Nada mais são do que maneiras de denominação, apesar do nome confuso. A diferença está na opção do comprador. Com opções europeias, o contrato deve ser exercido (ou não) na data estipulada. Já nas opções americanas, o contrato pode ser exercido durante todo o período que antecede a data (incluindo o dia de vencimento). Essa característica proporciona algumas diferenças no preço das opções, porém, são variações pequenas e não serão analisadas nesse texto.
A proteção contra movimentos bruscos no preço de um ativo é um fator muito atrativo das opções. Comparadas com a venda “short” do ativo, que deixa o investidor exposto a um risco (teoricamente) ilimitado, as opções oferecem alternativas interessantes. Existem outras inúmeras vantagens na utilização desses contratos, então vamos aos diferentes tipos de opções e as possibilidades de investimento.
Opção de compra (Call option): O contrato dá o direito (porém não a obrigação) ao comprador da opção de comprar o instrumento no preço predeterminado. Então, se o investidor possuir uma opção de compra de Netflix (NFLX) no preço de US$ 335.00, e a ação tiver o preço de 341.25 na data de exercício da opção, é interessante que o comprador exerça o seu direito. Seu lucro será a diferença entre os preços (341.25-335.00 nesse caso) menos o valor pago pelo direito da opção. Esse valor final deve ser multiplicado pela quantidade de contratos que ele possuí. Geralmente os contratos de opção são trocados em pacotes de 100. Portanto, a compra de um Call dá ao investidor o direito de comprar 100 ações de NFLX. Se forem comprados 2 contratos, 200 ações, e assim por diante. Caso o preço de NFLX seja menor que o preço estipulado na opção, o investidor não deve exercer sua opção, e terá um prejuízo equivalente ao preço pago pelo contrato de opção.
Opção de venda (Put option): O contrato dá o direito (porém não a obrigação) ao comprador da opção de vender o instrumento no preço predeterminado. Se o investidor possuir uma opção de venda de Facebook (FB) no preço de US$ 200.00, e ação tiver o preço de 180.00 na data de exercício da opção, é interessante que o investidor exerça sua opção. Seu lucro será a diferença entre o valor real da ação e o valor de venda da opção (200.00-180.00), menos o valor pago pelo direito da opção (o contrato inicial). Esse valor final deve ser multiplicado pela quantidade de contratos que o investidor possuí. Novamente, os contratos de opção são trocados em pacotes de 100. Caso o preço de FB seja maior que o preço estipulado na opção, o investidor não deve exercer sua opção, e terá um prejuízo equivalente ao preço pago pelo contrato de opção (multiplicado pela quantidade de contratos que possuí).
A seguir, serão apresentadas algumas maneiras de investir com opções e os riscos e retornos quantificados.
O gráfico de retorno de uma opção funciona como apresentado acima. No eixo vertical, o retorno do investimento na opção. No eixo horizontal, o preço do instrumento no qual a opção se baseia. Valores de y positivos representam lucro do investidor.
Aqui vemos como seria o retorno caso o investidor comprasse um instrumento de renda variável, sem o uso de opções. Sem considerar taxas além do custo da ação, podemos deduzir que ela foi comprada a 25.00 e que o investidor está “long” nessa ação, já que aumentos no preço indicam um aumento no lucro desse investimento.
Esse gráfico exemplifica o retorno de uma opção. Assumindo a situação mais simples, podemos dizer que o investidor comprou uma call (opção de compra) para o valor de 50.00. O custo por essa opção foi de 200.00 (lembrando que os contratos são trocados em pacotes de 100 ações), evidenciado pelo prejuízo que o investidor terá caso a ação se mantenha abaixo de 50.00. A partir do momento que o valor ultrapassa os 50.00, o investidor passa a recuperar o dinheiro investido. O ponto de cruzamento do eixo horizontal (52.00 nesse caso) é chamado de “break-even point”, o valor que recupera o capital investido (os 200.00 pagos pela opção + taxas de transação, onde aplicável).
Já esse gráfico mostra o retorno de uma opção put (venda). O lucro aumenta conforme o preço do ativo diminuí, pois é benéfico vender acima do valor real de mercado. Caso o valor de mercado seja maior do que o valor estipulado, o prejuízo será o valor de compra do contrato.
Com tantos instrumentos disponíveis, as possiblidades de combinação de opções são inúmeras, e podem minimizar riscos e maximizar o lucro em situações que uma compra ou venda convencional do ativo não permitiria. A imagem a seguir exemplifica algumas possibilidades.
Como exposto na imagem acima, as opções oferecem muitas estratégias diferentes de investimento, e por isso o texto apresentou apenas uma visão geral desse universo. Para mais informações, sugiro a leitura de artigos detalhados no investopedia.com ou livros sobre o assunto. Por fim, além das opções existem outros mecanismos que seguem um padrão parecido. Contratos futuros também servem como maneira de proteger o investidor contra mudanças altas no preço de algum ativo, e são muito utilizados no mercado de commodities. No próximo texto, uma análise mais detalhada sobre esse tipo de contrato e suas peculiaridades.
*O fato de quase todos os contratos de opções acabarem fora do dinheiro não significa que não seja um bom investimento. O que deve ser avaliado é o retorno médio, levando em conta os contratos não exercidos (perdas pequenas) e aqueles que acabam “no dinheiro” (geralmente ganhos significativos).