Continuando a sequência de textos sobre instrumentos derivativos, hoje analisaremos contratos futuros. Relembrando os conceitos de derivativos (contrato cujo valor depende do valor de outro instrumento financeiro) e de opções, o funcionamento de contratos futuros é semelhante ao assunto já abordado.
Um contrato futuro é um acordo para comprar ou vender algum commodity ou ativo específico com preço e data predeterminados. O comprador está confirmando sua obrigação de comprar o ativo na data de expiração do contrato, e o vendedor tem a obrigação de entregar o ativo na mesma data. Diferentemente do caso previamente analisado (opções), não há como liquidar o contrato apenas com os valores, e o ativo deve ser entregue fisicamente ao comprador na data de expiração.
Dessa maneira, o investidor que participa em um acordo de contratos futuros está disposto a receber (ou entregar) o ativo para a contraparte. Caso o comprador não deseje receber o ativo, ele pode vender o contrato para alguém interessado a receber o ativo antes da data final. Outra opção, também muito comum nesse mercado, é de fazer a rolagem do contrato. Nada mais é do que uma extensão do contrato previamente acordado entre as partes, com renegociação de datas e preços (em alguns casos, a possibilidade de rolagem já é estabelecida no momento de compra do contrato).
Os contratos futuros são utilizados com bastante frequência no mercado de commodities. O principal objetivo de compradores e vendedores é eliminar o risco de altas variações no preço do ativo. Por exemplo, companhias aéreas costumam fazer compras futuras no mercado de petróleo, já que o combustível representa uma parte significativa dos gastos e estabilidade é um fator importante para o funcionamento dos negócios.
Existem benefícios e desvantagens para compradores e vendedores em contratos futuros, dependendo das expectativas do preço da commodity. Por isso, existem maneiras para calcular o preço de um contrato futuro, que consideram diversas variáveis (mais informações aqui). O preço futuro é estabelecido e será pago no momento de entrega (expiração do contrato). Os contratos futuros implicam que existe um investidor que será beneficiado se o preço futuro for maior do que o preço acordado (comprador), e um investidor que espera que o preço seja inferior ao atual (vendedor). Esse funcionamento abre espaço para especuladores no mercado, porém a utilização do instrumento para diminuir riscos e garantir segurança também é muito utilizada.
Dada a estrutura dos contratos futuros, é possível prever movimentações no preço do contrato conforme a data de expiração se aproxima. Se um contrato estipula a venda de barris de petróleo no valor de US$ 65.00, e no dia anterior da expiração desse contrato o valor do barril é de US$ 60.00, é muito provável que o vendedor terá um lucro próximo de US$ 5.00. Por isso, algum outro investidor interessado terá que pagar um prêmio para ter o direito desse contrato (em outras palavras, não basta ele pagar o preço originalmente estabelecido, pois com apenas 1 dia restante, a chance do contrato tornar-se lucrativo é muito grande). Esse prêmio pago será próximo do valor de US$ 5.00, e, no limite, será exatamente a diferença entre o valor estabelecido no contrato futuro e o valor presente (em outras palavras, o preço será igual ao preço real do ativo naquele momento). O gráfico a seguir exemplifica a convergência de preços conforme a data de expiração se aproxima.
Os contratos de opções podem se encaixar em duas estruturas diferentes: Uma na qual o preço do contrato é inicialmente menor do que o preço da data de expiração, e outra onde o preço do contrato é maior do que o preço na data final. Essas estruturas são chamadas de “backwardation” e “contango”, respectivamente. De maneira geral, contratos em backwardation (também chamado de normal backwardation) são mais comuns, porém em alguns mercados a inversão de backwardation para contango ocorre com frequência. Isso ocorre por diversos fatores, entre eles o custo de armazenamento do produto, a conveniência de possuir o produto em mãos (ao invés de possuir o contrato que dá o direito a tal ativo), entre outros.
O mercado de contratos futuros é movido por expectativas, e as variações de preço nos contratos são provenientes de mudanças nessas expectativas. Comparando ao mercado de opções, é sempre importante lembrar que, no mercado de futuros, os contratos funcionam como obrigações e não opções, portanto todos os contratos serão efetivados, garantindo diversas oportunidades de compra/venda para investidores (em contrapartida, pensando num contrato de opção que se encontra fora do dinheiro com apenas algumas horas para expirar: seu valor de mercado será próximo de zero).
Após análises gerais de dois mercados comuns na área de derivativos, em seguida analisarei instrumentos e investimentos mais complexos.