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A renda fixa não é fixa

O conceito parece simples. Muitos acreditam que entendem o funcionamento e a dinâmica de renda fixa por completo, mas esquecem sempre de um fator crucial: risco. Os instrumentos de renda fixa (títulos de dívida por exemplo), muito conhecidos como "bonds", prometem pagamentos futuros de uma determinada quantia de dinheiro. Os bonds podem ser emitidos com diversas estruturas de pagamento, variando entre pagamentos semi anuais de cupons até a entrega do principal, casos onde o principal é pago periodicamente até a data final, e existem até situações onde o pagamento é feito por completo em apenas uma data futura. Todas essas dinâmicas diferentes se valem de um conceito principal para seu funcionamento: o valor presente em relação ao valor futuro do dinheiro.


Ao fazer um empréstimo e receber quantias maiores (em valores absolutos) no futuro, um investor expressa sua preferência temporal pelo dinheiro, abrindo mão do dinheiro no presente para receber uma quantia maior no futuro. A grande questão que gira em torno de bonds é: O quão maior deve ser essa quantia no futuro? Para esse valor ser determinado, diversas informações são levadas em conta. O risco do devedor não conseguir pagar a quantia, o retorno atual de investimentos com risco semelhante, a taxa de inflação, entre outros. O conceito que deve estar na mente do investidor no momento de escolha de um bond deve ser o "custo de oportunidade". Ao decidir investir o dinheiro em um bond com pagamentos semi anuais de $50, o investidor abre mão de outros investimentos que poderiam ser feitos. O custo de oportunidade é caracterizado exatamente pelos outros investimentos (oportunidades) do qual o investidor abre mão quando escolhe esse bond. Parece simples, não?


Porém nesse momento a situação torna-se mais complexa. Ao investir em um bond com duração de 10 anos, o investidor abre mão de quaisquer novas oportunidades que possam aparecer ao longo desses 10 anos, e portanto lida com inúmeros fatores imprevisíveis, como mudanças na taxa de juros e na inflação. Se um investidor compra um bond com retorno anual de 5%, e no meio do período as taxas de juros da economia sobem, tornando investimentos de mesma duração e risco mais rentáveis, com retorno de 6%, é natural esperar que o investidor deseje trocar seu bond 5% por um 6%. Ao tentar fazer isso, o investidor se depara com um problema. Ao tentar vender seu bond pelo valor pago por ele, o investidor nota que não há compradores, já que esses podem pagar o mesmo valor por um bond 6%.



COMO RESOLVER O PROBLEMA?



Por essa razão, há uma maneira de calcular o valor presente de uma série de pagamentos futuros. $1 hoje tem mais valor do que $1 no futuro, porém quantificar isso é a principal questão. A formula simplificada abaixo demonstra como chegar no valor presente a partir de pagamentos futuros.





O valor de "C" será constante, já que o devedor pagará quantias pré determinadas (nesse caso, duas vezes ao ano). Porém o valor "r" será variável. O retorno anual desejado pode ser maior, menor, ou igual ao valor do cupom C. Caso as taxas de juros subam, como citado anteriormente, a tendência é que o retorno desejado seja maior, portanto o denominador da fração será maior, tornando o valor de P menor. A dinâmica funciona de maneira inversa para reduções da taxa de juros, aumentando o valor de P. Portanto, mudanças em r, que podem ser vistas como mudanças no custo de oportunidade de possuir o bond, afetam o valor do instrumento de maneira significativa. Vamos ao exemplo.



Um investidor compra um bond de 30 anos por $1000, com pagamentos anuais de 5%. Isso significa que o investidor receberá $50 todo ano, independente de mudanças no restante da economia. Agora imagine que a mesma empresa decide aumentar o pagamento para 6% nos novos bonds emitidos (isso pode ocorrer por diversas razões, desde aumento no risco do investimento, até uma alta nos juros, forçando todos a oferecerem retornos maiores em relação aos títulos do governo). O valor presente do bond que anteriormente foi comprado por $1000 é calculado da seguinte maneira:




Veja que o investimento de $1000 agora vale $864! Como o custo de oportunidade aumentou (investimentos semelhantes com retornos maiores), o bond que valia $1000 perdeu mais de 10% de seu valor. No final das contas, a "renda fixa" não é tão fixa assim. Que os investidores tenham noção desse risco ao comprar ou vender esses instrumentos. Até a próxima!








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