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Federal Reserve: O regulador do mercado





Desde a crise financeira de 2008, o banco central dos Estados Unidos (Federal Reserve) tem utilizado práticas de estímulo econômico. Iniciando com uma taxa de juros em patamar historicamente baixo (vide imagem), seguido pela política de compra de títulos de renda fixa com moeda emitida pelo próprio Fed (conhecida como quantitative easing), e mais recentemente os anúncios em torno da continuação de tais práticas.


De maneira geral, a recuperação do período de recessão entre 2008 e 2009 foi considerada boa. Porém, as ações do banco central podem ter iniciado um efeito cascata que ainda não chegou ao seu fim. Com juros constantemente baixos desde 2009, muitas empresas nos EUA têm aproveitado para pegar empréstimos e investir.









Quais as consequências disso?



A princípio, não há nada de errado. Porém, manter juros baixos por um período prolongado pode gerar inflação, e o “superaquecimento” da economia é visto como um problema por especialistas nas medidas do banco central. Por isso, o Fed, a partir de 2016, começou a dar indícios de um aumento gradual da taxa de juros, para voltar a situação de normalidade. Com reações agressivas do mercado em torno das mudanças na taxa de juros, e um período de receitas diminuindo para muitas empresas, o Fed se encontra numa situação perigosa: continuar a aumentar a taxa de juros para “balancear a economia”, ou manter a política de “dinheiro barato” e estender o período de expansão?


Ao que tudo indica, o Fed optou pela segunda opção. Com uma pausa nos aumentos, e a fala de Powell indicando cautela com futuras movimentações no Fed funds rate, a euforia tomou conta de Wall St.


O leitor pode estar se perguntando: “Qual é o problema? Caso o Fed veja uma necessidade em aumentar os juros para “salvar” os Estados Unidos de uma eventual recessão, eles farão exatamente isso. Enquanto esse momento não chegar, a economia e o mercado financeiro continuam a expansão atual”. Existem inúmeros problemas com essa análise, tanto de uma perspectiva pragmática quanto numa ótica moral e ética.



Vamos a questão pragmática:



Caso o Fed mantenha os juros em níveis baixos, sem nenhuma indicação de mudança, uma bolha de dívidas já existente continuará seu crescimento, até uma implosão inevitável. Caso o Fed aumente as taxas de juros, essa implosão pode ser antecipada. De qualquer maneira, os níveis de dívida apresentados por empresas americanas não são sustentáveis. E como consequência direta de uma eventual recessão, o Fed terá problemas para abaixar a taxa de juros, que já se encontra em níveis baixos. Como a tradicional politica de abaixar juros para estimular a economia não estará disponível, o Fed terá diversos problemas para organizar uma retomada da expansão nos EUA.



E a questão ética:



O S&P 500, o Dow Jones, ou qualquer outro índice na bolsa de ações dos EUA nada mais são do que medidores do valor pago pelo mercado por empresas publicamente listadas. Eles incluem uma lista de empresas que tentam aumentar a produção, cortar gastos excessivos, e maximizar os lucros. Se tais empresas tomam decisões equivocadas e empréstimos absurdos sem condições de serem pagos, essas mesmas empresas devem sofrer consequências. Porém, quando o Fed mantém a taxa de juros baixa, ocorre uma mudança no comportamento do mercado.


O Fed funds rate é um preço, o preço do dinheiro. Quanto deve custar um empréstimo de 3 milhões de dólares por 1 ano? Muitos acreditam que o mercado determina tais valores, mas com a existência do Fed e a importância das taxas por ele estabelecidas, todo o mercado de empréstimos gira em torno dos números do banco central. O Fed funds dita o valor a ser cobrado para empréstimos entre bancos, e esse número se propaga afetando a economia de todo o país.


O Fed não foi criado para manter o preço das ações vendidas em Wall St., porém as decisões tomadas desde a crise de 2008 (ajuda para salvar Bear Sterns, juros constantemente baixos e quantitative easing), juntamente ao anuncio recente da parada nos aumentos de juros, tendem a mostrar o contrário. O Federal Reserve age para manter os índices subindo e os banqueiros de Wall St. com seus bônus anuais. Isso gera distorções na economia, e dados os resultados da crise de 2008, incentiva os bancos de investimentos a agirem agressivamente, sem se preocupar com as consequências, já que o banco central estará lá para salvá-los e manter o status quo.


E no momento da próxima recessão, os críticos de plantão estarão prontos para culpar o capitalismo e o livre mercado.



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